quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Música e beijos.

Era sábado à noite e a música tocava ao fundo, dando ritmo a uma noite que prometia tudo.
Ela e seus amigos (inclusive ele) dançavam às batidas eletrônicas.
Tão desajeitado, ela pensava.
E ela o queria daquele jeito. Não sabia se era amor, ou uma coisa que logo passaria. Naquele momento, as batidas descompassadas do seu coração ao vê-lo diziam que isso não importava.
Era incrível como dançar junto ao corpo dele durante a música seguinte, lenta, fez suas palpitações ou acelerarem demais, ou pararem de vez.
E era incrível também como parecia que havia correspondência.
Ele disse alguma coisa em seu ouvido, que na verdade não a importava nem um pouco. Segundos depois, o beijo que aconteceu pareceu de mentira.
Quando os lábios se descolaram, pareceu que nunca tivera acontecido. Foi um sonho. Foi enlouquecedor.
Eles nem ligavam para os amigos incrédulos à cena. Eles se amavam. Ou não.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sozinho, à tarde

Até que em algum momento, não registrado por ele mesmo, dormiu.
E não sabe explicar direito com o que sonhou, mas só sabe que sonhou. E que foi um sonho bom.

E neste sonho, ele a via. Alguém em quem ele já não via há muito tempo. Alguém que ele pensava já ter esquecido. Mas lá estava ela. Deslumbrante, exatamente como em um sonho. Porque fora real.
Sim, fora real: dentro de seu próprio sub consciente*, real dentro de seus próprios sonhos.
E ela vinha com um presente nas mãos, para ele. Mas isso não importava. Importava o beijo que ela o dera. Um beijo, que nem fora tão intenso ou cinematográfico. Apenas um beijo.
E ela ia embora, e ele abria os olhos.
Passou um tempo até ele entender o que tinha acontecido. Afinal, ele pôde algo que ele já não mais conseguia: uma palpitação acelerada, "butterflies in his stomach". E será que veio à tona um sentimento já há muito esquecido?
O que quer que fosse, ele desistiu.
No coração dela já habitava alguém, e a ele parecia, até então, impenetrável.
~
Ela estava cansada. Dele. Da vida. De tudo.
Até que, por ela mesma, se lembrou de uma pessoa. E borboletas começaram a voar pelo seu estômago.

"nothing seems to be, nothing tastes as sweet as what I can't have..."

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tecnologias e sentimentos

Ela já não entendia mais essas modernidades. Primeiro, apareceu o e-mail. Todos tiveram que se acostumar. Depois, um tal de Orkut. e o Messenger. E de uma hora pra outra, e ela nem sabia como, aquilo tinha se tornado uma febre. Seus filhos já brigavam pelo computador para conversar com os amigos.
Ahh, as conversas com os amigos, ela pensava.
Nunca mais foram as mesmas. Na época dela, há uns trinta anos, as conversas eram sobre garotos reais, sobre a escola, sobre a vida que realmente existia.
Hoje, ela andava na rua e ouvia às conversas dos jovens. E sempre havia, dentre seus assuntos preferidos, o tal do Orkut e do Messenger. Não havia mais realidade. Não havia mais a timidez e o medo em uma declaração de amor, ou um pedido de namoro.
Não havia mais gritos ou tensão corporal em brigas de casais.
Todo o sentimento virou palavras pixeladas. Tudo agora são pixels.
E tudo ficava pior! Facebook, Hi-5, Twitter, meu Deus! O que era tudo aquilo, ela pensava?
Onde estão as cartas de amor? Onde estão os bilhetinhos no meio da aula? Será que viraram mensagens no celular, via Bluetooth?

Não, ela era mesmo à moda antiga. Preferia o pedido de beijo no guardanapo, como nos anos 70.
Ela queria que os jovens vivessem na realidade que poderia ser mágica se eles quisesse. Bastava apertar o botão.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Depressive

Era tarde e tudo que ela queria era não precisar dormir. Tudo que ela queria era parar no tempo, ou até mesmo voltar, se fosse possível. Pena que não era.
Ela temia que o dia amanhã fosse pior que hoje, e não duvidava de que seria assim.
Ela não queria sentir como se sentia agora. Ela queria se sentir melhor, mas tudo que ela conseguia pensar é que tudo estava mudando.

Puxa, tudo seria tão melhor se simplesmente ficasse como está até querermos que mude.
Ela estava calada. O chocolate a fazia companhia, mas como ela desejava que o mesmo se tornasse álcool, para que ela pudesse esquecer por umas horas o desespero que a incendiava por dentro.

Um desespero que era angústia, que era ansiedade, que era tristeza.
Um desespero que ela não desejava a ninguém. Ah, se ela pudesse entender ao menos a razão desse aperto.

Ah, se ela pudesse, agora não mais voltar, mas avançar no tempo: ao futuro, onde as respostas seriam dadas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Lílian e o drama da escova de dentes.

Farmácia e mil opções.
Ela tinha na cabeça as suas dúvidas sobre todas aquelas tecnologias milagrosas que limpam "mais do que só os dentes".
Sobre limpadores de língua e bochechas e sobre tudo mais.
Não sonhava ser dentista, mas também tinha curiosidade sobre as marcas mais recomendadas pelos dentistas e sobre a prevenção de doze problemas bucais.
"Será que resolvia mesmo, ou era só pura conversa fiada?"
Pensando bem, ela nunca tivera nenhum problema bucal tão sério. Será que foi por causa da pasta de dentes?
Mas ela olhou mais uma vez para as escovas, cada uma com uma técnica de limpeza mais avançada e eficiente (ou não, ela não sabia).
Escolheu levar uma mais ou menos. Com isso, sem aquilo.

Só que por último (e não menos importante), qual? A verde, a amarela ou a cor-de-rosa?
A cor-de-rosa, claro. A melhor que melhor define a delicadeza que apenas Lílian tem.

(Ouvindo: The Donnas, New Kid in School)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Imaginação

Os olhos fechados e ela ia longe.
Não estava dormindo, estava apenas pensando.
Era quase como sonhar, mas ela podia controlar. E não havia culpa, porque era apenas imaginação. Ela estava dentro de um mundo só dela. Só o que ela queria que acontecesse, aconteceria.

Ela gostava de deixar seus pensamentos fluírem dentro dela, sem barreiras. Ela poderia perder o controle, ela poderia ir cada vez mais longe, imaginando, e, até mesmo, planejando a sua vida: mesmo estando certa de que seus planos nunca sairiam da sua cabeça, e que ela nunca contaria a ninguém sobre eles.

Então, cansada de criar situações improváveis e de fantasiar falas e gestos de pessoas, ela se levantava, bebia um copo de água e reemergia na realidade, esta tão diferente da que queria que fosse.

(ouvindo: Kings of Leon, Sex on Fire)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crises

(Ressussitada de um antigo blog!)

Ela nem acreditava que finalmente tinha o homem que tanto sonhou ao seu lado. Adolescente, nada mais era necessário senão um cara bonito, alto, gentil, que pudesse pagar a conta do restaurante, e, preferencialmente, mais velho.
Era assim que ele era. Ela nem pôde acreditar quando os seus lábios tocaram o dele, tão macios e experientes.
Passou-se a primeira semana, e tudo ainda era novo para ela, apesar de ser bem diferente do que ela antes imaginara.
Ele não tinha dito que a amava. Claro que não, faz só uma semana!, ela pensava.
Ele não se importava muito em ligar para ela, ou mandar muitas mensagens no e-mail ou no celular.
Ralaxa, garota, caras mais velhos são assim mesmo!
Ela não relaxava.
Até que chegou um dia que fez sua alegria crescer sem fim. O telefone toca. É ele.
- Oi! Escuta, vou chamar uns amigos pra uma pizza aqui em casa amanhã... tá afim?
- Er... é... claro! Vou sim!, aceita ela, sem ao menos saber se o pai aprovaria. Apenas dezesseis anos, ela pensa que pode decidir por si mesma?
Ela foi. A pizza acabou. Os amigos foram embora. Ela ficou. Começaram os beijos.
E os beijos foram ficando mais intensos e mais provocativos, à medida que eles se levantavam e se dirigiam para o quarto dele.
Ela sentia o sangue dela ferver e acelerar mais e mais no corpo dela, e os seus lábios não sabiam deixar os dele...
Pare com isso!, dizia a voz em sua cabeça, pare com isso agora!
Alguns minutos (que lhe pareceram segundos) depois, ela o empurrou. Notou que já não usava sua camiseta, e nem ele.
- Olha, começou. Precisamos conversar.
- Que foi? Disse ele, meio irritado e/ou confuso.
- Eu sou virgem. Não sei se é a hora.
Ela olhou para o seu rosto confuso e pensativo, como se milhões de coisas passassem na sua cabeça.
Ela vestiu sua camiseta e foi ao banheiro, imaginando se seu príncipe gostava dela mesmo assim. A verdade chegaria em um instante.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fera Anjo

Lílian era o tipo de garota que seria considerada, por muitos, comum. Morna. Morena, para Sérgio Buarque de Holanda.
Ela não ligava.
Queria apenas viver e ter para si mesma que a sua vida era boa.
Lílian lutava pelas suas coisas. Às vezes, silenciosas. Às vezes acha que tem que gritar um pouco mais.
Lílian não era rude. Nem arrogante.
Lílian era simplesmente tão doce que tudo que era amargo, nela logo se açucarava. Sabia lutar, mas apenas usando ações, não palavras.
Mas às vezes, se irritava, e poderia ser curta e grossa. Era uma única frase que poderia mostrar que toda a doçura, poderia, em uma fração de segundo, se tornar amargura e azedume, e, no instante seguinte, voltar à doçura de um caramelo recém derretido.

- Ei, Lílian, acorda! Aula não é lugar de dormir!
- Eu tô cansada, eu moro longe, eu tô com sono. É melhor você me deixar dormir se não quiser uma pessoa muito irritada perto de você.

Ele riu, e não deu muita importância. Não a incomodou mais.
E ela dormiu. O rosto angelical da Lílian que dormia não mais revelou a fera que poderia se libertar de dentro dela algumas vezes.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Insatisfação

Ele tinha que levar trabalho para casa. Ficava até altas horas terminando-o. E ele já não entendia o porquê, e nem onde chegaria com tudo aquilo.
Antes fosse algo emocionante. Uma escultura. Um par de óculos de Realidade Aumentada. Um projeto de teletransportador. Uma bomba nuclear.
Não, eram apenas papéis sem vida e repetitivos.
E eram folhas atrás de folhas, riscos de caneta aos quais ele já nem prestava mais atenção, que passavam e se viravam revelando cada vez mais caligrafias desanimadas e ilegíveis.
Tudo estava perdido: tinha o trabalho que não queria, gastava suas douradas horas de sono escondido por uma pilha de monotonia e vontade de jogar tudo para o alto.
Ir embora. Para outro país. Sumir. Ser hippie ou tocar violão no Central Park com o seu chapéu no chão implorando por alguns centavos.
Ele fugiria e nunca mais voltaria. Correria gritando anunciando a sua imprudente liberdade. Mas antes disso, teria que terminar de trabalhar com aqueles papéis.

sábado, 3 de abril de 2010

Almoço

Eles iam almoçar juntos. Na casa dele.
Ao telefone:

Ele: Poxa, minha mãe esqueceu que você vinha e não fez almoço...
Ela: Ah é? Bom, não tem problema, eu tenho que ir ao shopping mesmo, então a gente vai junto e almoça lá, pode ser?
Ele: Não estou com fome...
Ela: Mas eu tô...
Ele:...
Ela: Então eu almoço aqui em casa mesmo, depois eu vou ao shopping e a gente vê o que faz.
Ele: Tá.
Ela: Eu vou sair lá pelas 14h.
Ele: Tá. Me avisa.
Ela: Tá bom. Beijos.
Ele: Beijo.
Ela: Eu te amo.
Ele: Também.
Ela: Tchau.
Ele: Tchau.

Desligam.
Ela não entende a frieza e a distância pelas quais os dois passam. Ainda ontem queriam ficar juntos o dia inteiro. Fizeram planos. Hoje parece que tudo está diferente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Milésima

Nada melhor do que começar um blog novo, e sentir essa esperança de que, daqui alguns meses, ele será um estouro na internet.

Finalmente, aqui está ele!
-

Ela estava na sala, sozinha, assistindo a um programa qualquer, ao qual ela nem prestava atenção. Via as meninas com roupas curtas e justas e não entendia como, em tão pouco tempo, parecia que tudo havia mudado.
No seu tempo, uma moça não seria bem vista se usasse um decote mais ousado, ou uma saia mais curta. Há uns anos, um homem procurava uma moça que fosse digna de família, digna de ser mãe.
E pensou como sua vida passara rápido. Não sabia se queria continuar vivendo em um mundo que parecia cada vez decair mais. Foram-se os valores, foi-se a moral que um dia existiu.
Ela se levantou e deixou o tricô de lado. Desligou a TV, deprimida e pensativa sobre o futuro dos seus netos, ou dos seus bisnetos. Pensou na sua linhagem completa.
Preferia não pensar sobre isso. Se Deus quisesse, ela estaria bem longe, e a sua consciência estaria tranquila ao ver que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance.
Foi para a cozinha, terminar de fazer o jantar, enquanto esperava seu marido voltar para casa com os seus remédios.