sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dilema de vestuário

Mês passado, ela gastou (quase) todo o seu salário em roupas. Resolveu que, se ligasse para o preço, não compraria nada.
Naquele dia, separou cada centavo das contas que tinha que pagar, pegou apenas o seu cartão e saiu.
Comprou. Quando sua conta zerou, foi o crédito.
"Já era o mês seguinte", ela pensava.
Comprou tudo.
Ahh, mulheres e os cartões de crédito.

Hoje, sábado à noite. Ela abre o guarda- roupa, e não tem nada para vestir.

Ahh, mulheres.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Música e beijos.

Era sábado à noite e a música tocava ao fundo, dando ritmo a uma noite que prometia tudo.
Ela e seus amigos (inclusive ele) dançavam às batidas eletrônicas.
Tão desajeitado, ela pensava.
E ela o queria daquele jeito. Não sabia se era amor, ou uma coisa que logo passaria. Naquele momento, as batidas descompassadas do seu coração ao vê-lo diziam que isso não importava.
Era incrível como dançar junto ao corpo dele durante a música seguinte, lenta, fez suas palpitações ou acelerarem demais, ou pararem de vez.
E era incrível também como parecia que havia correspondência.
Ele disse alguma coisa em seu ouvido, que na verdade não a importava nem um pouco. Segundos depois, o beijo que aconteceu pareceu de mentira.
Quando os lábios se descolaram, pareceu que nunca tivera acontecido. Foi um sonho. Foi enlouquecedor.
Eles nem ligavam para os amigos incrédulos à cena. Eles se amavam. Ou não.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sozinho, à tarde

Até que em algum momento, não registrado por ele mesmo, dormiu.
E não sabe explicar direito com o que sonhou, mas só sabe que sonhou. E que foi um sonho bom.

E neste sonho, ele a via. Alguém em quem ele já não via há muito tempo. Alguém que ele pensava já ter esquecido. Mas lá estava ela. Deslumbrante, exatamente como em um sonho. Porque fora real.
Sim, fora real: dentro de seu próprio sub consciente*, real dentro de seus próprios sonhos.
E ela vinha com um presente nas mãos, para ele. Mas isso não importava. Importava o beijo que ela o dera. Um beijo, que nem fora tão intenso ou cinematográfico. Apenas um beijo.
E ela ia embora, e ele abria os olhos.
Passou um tempo até ele entender o que tinha acontecido. Afinal, ele pôde algo que ele já não mais conseguia: uma palpitação acelerada, "butterflies in his stomach". E será que veio à tona um sentimento já há muito esquecido?
O que quer que fosse, ele desistiu.
No coração dela já habitava alguém, e a ele parecia, até então, impenetrável.
~
Ela estava cansada. Dele. Da vida. De tudo.
Até que, por ela mesma, se lembrou de uma pessoa. E borboletas começaram a voar pelo seu estômago.

"nothing seems to be, nothing tastes as sweet as what I can't have..."

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tecnologias e sentimentos

Ela já não entendia mais essas modernidades. Primeiro, apareceu o e-mail. Todos tiveram que se acostumar. Depois, um tal de Orkut. e o Messenger. E de uma hora pra outra, e ela nem sabia como, aquilo tinha se tornado uma febre. Seus filhos já brigavam pelo computador para conversar com os amigos.
Ahh, as conversas com os amigos, ela pensava.
Nunca mais foram as mesmas. Na época dela, há uns trinta anos, as conversas eram sobre garotos reais, sobre a escola, sobre a vida que realmente existia.
Hoje, ela andava na rua e ouvia às conversas dos jovens. E sempre havia, dentre seus assuntos preferidos, o tal do Orkut e do Messenger. Não havia mais realidade. Não havia mais a timidez e o medo em uma declaração de amor, ou um pedido de namoro.
Não havia mais gritos ou tensão corporal em brigas de casais.
Todo o sentimento virou palavras pixeladas. Tudo agora são pixels.
E tudo ficava pior! Facebook, Hi-5, Twitter, meu Deus! O que era tudo aquilo, ela pensava?
Onde estão as cartas de amor? Onde estão os bilhetinhos no meio da aula? Será que viraram mensagens no celular, via Bluetooth?

Não, ela era mesmo à moda antiga. Preferia o pedido de beijo no guardanapo, como nos anos 70.
Ela queria que os jovens vivessem na realidade que poderia ser mágica se eles quisesse. Bastava apertar o botão.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Depressive

Era tarde e tudo que ela queria era não precisar dormir. Tudo que ela queria era parar no tempo, ou até mesmo voltar, se fosse possível. Pena que não era.
Ela temia que o dia amanhã fosse pior que hoje, e não duvidava de que seria assim.
Ela não queria sentir como se sentia agora. Ela queria se sentir melhor, mas tudo que ela conseguia pensar é que tudo estava mudando.

Puxa, tudo seria tão melhor se simplesmente ficasse como está até querermos que mude.
Ela estava calada. O chocolate a fazia companhia, mas como ela desejava que o mesmo se tornasse álcool, para que ela pudesse esquecer por umas horas o desespero que a incendiava por dentro.

Um desespero que era angústia, que era ansiedade, que era tristeza.
Um desespero que ela não desejava a ninguém. Ah, se ela pudesse entender ao menos a razão desse aperto.

Ah, se ela pudesse, agora não mais voltar, mas avançar no tempo: ao futuro, onde as respostas seriam dadas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Lílian e o drama da escova de dentes.

Farmácia e mil opções.
Ela tinha na cabeça as suas dúvidas sobre todas aquelas tecnologias milagrosas que limpam "mais do que só os dentes".
Sobre limpadores de língua e bochechas e sobre tudo mais.
Não sonhava ser dentista, mas também tinha curiosidade sobre as marcas mais recomendadas pelos dentistas e sobre a prevenção de doze problemas bucais.
"Será que resolvia mesmo, ou era só pura conversa fiada?"
Pensando bem, ela nunca tivera nenhum problema bucal tão sério. Será que foi por causa da pasta de dentes?
Mas ela olhou mais uma vez para as escovas, cada uma com uma técnica de limpeza mais avançada e eficiente (ou não, ela não sabia).
Escolheu levar uma mais ou menos. Com isso, sem aquilo.

Só que por último (e não menos importante), qual? A verde, a amarela ou a cor-de-rosa?
A cor-de-rosa, claro. A melhor que melhor define a delicadeza que apenas Lílian tem.

(Ouvindo: The Donnas, New Kid in School)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Imaginação

Os olhos fechados e ela ia longe.
Não estava dormindo, estava apenas pensando.
Era quase como sonhar, mas ela podia controlar. E não havia culpa, porque era apenas imaginação. Ela estava dentro de um mundo só dela. Só o que ela queria que acontecesse, aconteceria.

Ela gostava de deixar seus pensamentos fluírem dentro dela, sem barreiras. Ela poderia perder o controle, ela poderia ir cada vez mais longe, imaginando, e, até mesmo, planejando a sua vida: mesmo estando certa de que seus planos nunca sairiam da sua cabeça, e que ela nunca contaria a ninguém sobre eles.

Então, cansada de criar situações improváveis e de fantasiar falas e gestos de pessoas, ela se levantava, bebia um copo de água e reemergia na realidade, esta tão diferente da que queria que fosse.

(ouvindo: Kings of Leon, Sex on Fire)