terça-feira, 29 de junho de 2010

Lílian e o drama da escova de dentes.

Farmácia e mil opções.
Ela tinha na cabeça as suas dúvidas sobre todas aquelas tecnologias milagrosas que limpam "mais do que só os dentes".
Sobre limpadores de língua e bochechas e sobre tudo mais.
Não sonhava ser dentista, mas também tinha curiosidade sobre as marcas mais recomendadas pelos dentistas e sobre a prevenção de doze problemas bucais.
"Será que resolvia mesmo, ou era só pura conversa fiada?"
Pensando bem, ela nunca tivera nenhum problema bucal tão sério. Será que foi por causa da pasta de dentes?
Mas ela olhou mais uma vez para as escovas, cada uma com uma técnica de limpeza mais avançada e eficiente (ou não, ela não sabia).
Escolheu levar uma mais ou menos. Com isso, sem aquilo.

Só que por último (e não menos importante), qual? A verde, a amarela ou a cor-de-rosa?
A cor-de-rosa, claro. A melhor que melhor define a delicadeza que apenas Lílian tem.

(Ouvindo: The Donnas, New Kid in School)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Imaginação

Os olhos fechados e ela ia longe.
Não estava dormindo, estava apenas pensando.
Era quase como sonhar, mas ela podia controlar. E não havia culpa, porque era apenas imaginação. Ela estava dentro de um mundo só dela. Só o que ela queria que acontecesse, aconteceria.

Ela gostava de deixar seus pensamentos fluírem dentro dela, sem barreiras. Ela poderia perder o controle, ela poderia ir cada vez mais longe, imaginando, e, até mesmo, planejando a sua vida: mesmo estando certa de que seus planos nunca sairiam da sua cabeça, e que ela nunca contaria a ninguém sobre eles.

Então, cansada de criar situações improváveis e de fantasiar falas e gestos de pessoas, ela se levantava, bebia um copo de água e reemergia na realidade, esta tão diferente da que queria que fosse.

(ouvindo: Kings of Leon, Sex on Fire)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crises

(Ressussitada de um antigo blog!)

Ela nem acreditava que finalmente tinha o homem que tanto sonhou ao seu lado. Adolescente, nada mais era necessário senão um cara bonito, alto, gentil, que pudesse pagar a conta do restaurante, e, preferencialmente, mais velho.
Era assim que ele era. Ela nem pôde acreditar quando os seus lábios tocaram o dele, tão macios e experientes.
Passou-se a primeira semana, e tudo ainda era novo para ela, apesar de ser bem diferente do que ela antes imaginara.
Ele não tinha dito que a amava. Claro que não, faz só uma semana!, ela pensava.
Ele não se importava muito em ligar para ela, ou mandar muitas mensagens no e-mail ou no celular.
Ralaxa, garota, caras mais velhos são assim mesmo!
Ela não relaxava.
Até que chegou um dia que fez sua alegria crescer sem fim. O telefone toca. É ele.
- Oi! Escuta, vou chamar uns amigos pra uma pizza aqui em casa amanhã... tá afim?
- Er... é... claro! Vou sim!, aceita ela, sem ao menos saber se o pai aprovaria. Apenas dezesseis anos, ela pensa que pode decidir por si mesma?
Ela foi. A pizza acabou. Os amigos foram embora. Ela ficou. Começaram os beijos.
E os beijos foram ficando mais intensos e mais provocativos, à medida que eles se levantavam e se dirigiam para o quarto dele.
Ela sentia o sangue dela ferver e acelerar mais e mais no corpo dela, e os seus lábios não sabiam deixar os dele...
Pare com isso!, dizia a voz em sua cabeça, pare com isso agora!
Alguns minutos (que lhe pareceram segundos) depois, ela o empurrou. Notou que já não usava sua camiseta, e nem ele.
- Olha, começou. Precisamos conversar.
- Que foi? Disse ele, meio irritado e/ou confuso.
- Eu sou virgem. Não sei se é a hora.
Ela olhou para o seu rosto confuso e pensativo, como se milhões de coisas passassem na sua cabeça.
Ela vestiu sua camiseta e foi ao banheiro, imaginando se seu príncipe gostava dela mesmo assim. A verdade chegaria em um instante.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fera Anjo

Lílian era o tipo de garota que seria considerada, por muitos, comum. Morna. Morena, para Sérgio Buarque de Holanda.
Ela não ligava.
Queria apenas viver e ter para si mesma que a sua vida era boa.
Lílian lutava pelas suas coisas. Às vezes, silenciosas. Às vezes acha que tem que gritar um pouco mais.
Lílian não era rude. Nem arrogante.
Lílian era simplesmente tão doce que tudo que era amargo, nela logo se açucarava. Sabia lutar, mas apenas usando ações, não palavras.
Mas às vezes, se irritava, e poderia ser curta e grossa. Era uma única frase que poderia mostrar que toda a doçura, poderia, em uma fração de segundo, se tornar amargura e azedume, e, no instante seguinte, voltar à doçura de um caramelo recém derretido.

- Ei, Lílian, acorda! Aula não é lugar de dormir!
- Eu tô cansada, eu moro longe, eu tô com sono. É melhor você me deixar dormir se não quiser uma pessoa muito irritada perto de você.

Ele riu, e não deu muita importância. Não a incomodou mais.
E ela dormiu. O rosto angelical da Lílian que dormia não mais revelou a fera que poderia se libertar de dentro dela algumas vezes.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Insatisfação

Ele tinha que levar trabalho para casa. Ficava até altas horas terminando-o. E ele já não entendia o porquê, e nem onde chegaria com tudo aquilo.
Antes fosse algo emocionante. Uma escultura. Um par de óculos de Realidade Aumentada. Um projeto de teletransportador. Uma bomba nuclear.
Não, eram apenas papéis sem vida e repetitivos.
E eram folhas atrás de folhas, riscos de caneta aos quais ele já nem prestava mais atenção, que passavam e se viravam revelando cada vez mais caligrafias desanimadas e ilegíveis.
Tudo estava perdido: tinha o trabalho que não queria, gastava suas douradas horas de sono escondido por uma pilha de monotonia e vontade de jogar tudo para o alto.
Ir embora. Para outro país. Sumir. Ser hippie ou tocar violão no Central Park com o seu chapéu no chão implorando por alguns centavos.
Ele fugiria e nunca mais voltaria. Correria gritando anunciando a sua imprudente liberdade. Mas antes disso, teria que terminar de trabalhar com aqueles papéis.

sábado, 3 de abril de 2010

Almoço

Eles iam almoçar juntos. Na casa dele.
Ao telefone:

Ele: Poxa, minha mãe esqueceu que você vinha e não fez almoço...
Ela: Ah é? Bom, não tem problema, eu tenho que ir ao shopping mesmo, então a gente vai junto e almoça lá, pode ser?
Ele: Não estou com fome...
Ela: Mas eu tô...
Ele:...
Ela: Então eu almoço aqui em casa mesmo, depois eu vou ao shopping e a gente vê o que faz.
Ele: Tá.
Ela: Eu vou sair lá pelas 14h.
Ele: Tá. Me avisa.
Ela: Tá bom. Beijos.
Ele: Beijo.
Ela: Eu te amo.
Ele: Também.
Ela: Tchau.
Ele: Tchau.

Desligam.
Ela não entende a frieza e a distância pelas quais os dois passam. Ainda ontem queriam ficar juntos o dia inteiro. Fizeram planos. Hoje parece que tudo está diferente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Milésima

Nada melhor do que começar um blog novo, e sentir essa esperança de que, daqui alguns meses, ele será um estouro na internet.

Finalmente, aqui está ele!
-

Ela estava na sala, sozinha, assistindo a um programa qualquer, ao qual ela nem prestava atenção. Via as meninas com roupas curtas e justas e não entendia como, em tão pouco tempo, parecia que tudo havia mudado.
No seu tempo, uma moça não seria bem vista se usasse um decote mais ousado, ou uma saia mais curta. Há uns anos, um homem procurava uma moça que fosse digna de família, digna de ser mãe.
E pensou como sua vida passara rápido. Não sabia se queria continuar vivendo em um mundo que parecia cada vez decair mais. Foram-se os valores, foi-se a moral que um dia existiu.
Ela se levantou e deixou o tricô de lado. Desligou a TV, deprimida e pensativa sobre o futuro dos seus netos, ou dos seus bisnetos. Pensou na sua linhagem completa.
Preferia não pensar sobre isso. Se Deus quisesse, ela estaria bem longe, e a sua consciência estaria tranquila ao ver que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance.
Foi para a cozinha, terminar de fazer o jantar, enquanto esperava seu marido voltar para casa com os seus remédios.